O Museu da Carris foi inaugurado em 1999 com a missão de preservar o valioso acervo e também divulgar o importante papel que a Carris teve ao longo da história da cidade, desde 1872. A primeira remodelação aconteceu em 2012, mas dez anos depois este museu continua em movimento. Após alguns meses fechado, reabriu a 19 de Abril com algumas novidades e há mais mudanças a caminho: o trabalho de reforço de conteúdos irá continuar até ao final do ano.
As novidades começam à entrada: agora, a loja está no mesmo espaço
que a bilheteira, com novo merchandising disponível e um elemento que começa
logo por denunciar uma das curiosidades da Carris. Um espelho onde se lê: “Mais
um minuto e veja como se apresenta ao serviço. Atenção, a barba está feita e o
fato bem limpo? Note bem. Um aspecto de limpeza agrada a todos.” Se os
motoristas e guarda-freios, ao olhar para este espelho, não sentissem que
estavam a cumprir os requisitos de apresentação ao público, a solução estava
bem perto. É que a Carris tinha barbeiros ao serviço e é este o destaque de uma
das novas salas temáticas do museu. Havia uma barbearia em cada estação e o
último barbeiro saiu da Carris em 2008. No museu pode apreciar bem de perto um
conjunto de cadeiras restauradas, datadas de 1934, as mais antigas do espólio
(porque há mais). Também havia uma série de postos médicos (hoje existe apenas
um) e a sala dedicada à saúde no museu também ganhou novas peças, como um
antigo quadro oftalmológico, também restaurado
Nesta nova reabertura há uma coisa que não vai encontrar: o
espólio do Metropolitano de Lisboa foi retirado da exposição permanente da
Carris, tendo regressado a casa, o que acabou por dar mais espaço às exposições
do museu. Um exemplo muito direto está na seção de fardamentos: como saíram
duas fardas do metro, entraram mais duas da Carris. Outro destaque, e uma peça
única, é o Livro de Bilhetes de Assinatura, uma mala de couro com fotografias
dos titulares da assinatura mensal, que andava sempre junto ao guarda-freio.
Explica a Carris que dos 2625 retratados, apenas 40 são mulheres.
O novo elemento, e o ex-líbris do novo percurso, é um grande
letreiro do Ascensor da Bica (na imagem de destaque) que estava destruído em
armazém. Foi restaurado com as letras e moldura originais, tendo apenas sido
ajustado à parede onde agora está instalado, e é um excelente momento para
sacar aquela foto para o Instagram. Ao longo do percurso vai perceber que há
uma grande aposta nas imagens de arquivo e mesmo ao lado do letreiro encontra
uma fotografia de 1927 onde é visível o antigo abrigo da parte inferior da
estação deste ascensor, cortesia do Arquivo Municipal de Lisboa.
Antes da pequena viagem de eléctrico que liga este Núcleo I ao
Núcleo II, onde estão em exposição diversos transportes históricos da Carris (e
todos funcionam), foi criada uma pequena sala de espera, com três bancos de
autocarro junto a um postalete, o nome dos postes que seguram as placas
informativas. Esta informa: "Aguarde pelo guarda-freio". E seguimos
viagem em direcção ao “car barn”, onde estão os veículos, a bordo de um
eléctrico de 1901, um antigo “palhinhas” remodelado nos anos 60 do século
passado para passear turistas. É verdade, muitos veículos, entre eléctricos e
autocarros, tinham alcunhas. Como o “americano”, puxado a cavalos (e a única réplica
do museu); o “salão”, um eléctrico espaçoso com capacidade para 40
passageiros; ou o “bigodes”, que tinha uns tubos para atrelados na parte
dianteira e foi um dos primeiros eléctricos a ser construídos na oficina da
Carris, que arrancou em 1928.
Por um tempo
É no Núcleo II que passam a residir as exposições temporárias,
como a “Da pintura à mão à impressão digital”, inaugurada a 18 de Maio e
patente até 3 de Setembro. É sobre a importância (e técnica) da publicidade que
andava a bordo dos veículos da Carris, numa altura em que a televisão ainda não
tinha chegado a Portugal. Por isso mesmo, a partir dos anos 50 esta era uma das
melhores apostas para as marcas comunicarem com as massas e até aos anos 90 era
tudo pintado à mão. Há ainda espaço para peças tridimensionais, cedidas por
antigos anunciantes como a Pasta Couto e a TAP, e réplicas de publicidade
dentro de um dos eléctricos, para que os visitantes viagem no tempo cerca de 70
anos. Para enriquecer a experiência, foi montada uma simulação de criação de
uma faixa publicitária à Guloso, como se estivéssemos numa antiga oficina da
Carris, com cavalete, tintas, escadote e tudo.
Todos os anos, por altura do aniversário da Carris, que se
assinala a 18 de Setembro, todos os veículos do museu saem à rua para um
desfile, uma oportunidade única para ver a história em movimento. Até lá, uma
visita ao Museu da Carris é sempre divertida e enriquecedora e pode sempre
primeiro fazer uma visita virtual, e gratuita, ao museu,
onde já estão disponíveis todas as novidades.
Museu da Carris. Rua 1º de Maio, 101 – 103 (Alcântara). Seg-Sáb
10.00-13.00, 14.00-18.00.
Sem comentários:
Enviar um comentário