quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e D. João V

 




"A Biblioteca"
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra

Aqui estão guardados livros que são exemplares únicos e raros do saber produzido no ocidente entre os séculos XV a XIX. Considerada uma das mais belas do mundo, esta biblioteca nasceu no reinado de D. João V, o rei que privilegiava a cultura e o saber.
A maior sala do convento de Mafra está forrada com mais de 40 mil livros, arrumados e alinhados nas estantes em estilo rococó. Encadernações em couro gravadas a ouro, dizem-nos que não são livros comuns, que estamos perante objetos valiosos, em cujas páginas se condensam séculos de conhecimento, cultura e sabedoria. Numerosas obras foram encomendadas por D. João V, porque o rei queria concentrar neste palácio, que lhe era muito especial, o que de melhor se imprimia no reino e no estrangeiro.
Da autoria do arquiteto Manuel Clemente de Sousa, a biblioteca, com 88 metros de comprimento e uma planta em cruz, tem um pouco de tudo: obras de medicina, filosofia, literatura, direito, gramáticas e dicionários, enciclopédias de costumes, livros de viagens. Na ala mais a sul estão os temas religiosos e, a norte, no lado oposto, arrumam-se os profanos das ciências puras. Exemplares únicos ou de grande raridade são manuseados com mil cuidados, como é o caso da primeira edição do Alcorão, de 1543, da Bíblia poliglota, de 1514 ou ainda de uma primeira edição de “Os Lusíadas”. Já a preservação destas obras antiquíssimas está a cargo de um exército de minúsculos morcegos que, durante a noite, caçam os insetos que comem papel, tinta e cola.
Considerada uma das mais importantes bibliotecas do mundo, faz parte do imponente palácio mandado construir em 1717 por D. João V, em cumprimento de uma promessa para lhe nascer um filho herdeiro do seu casamento com D. Maria Ana de Áustria. Mas esta é uma outra história, romanceada por José Saramago em “Memorial do Convento”.











Os morcegos são das espécies mais enigmáticas da fauna. Para tal, a sua capacidade de voar à noite, gerir o seu voo e a sua atividade de caça, em função da comida disponível (insetos), faz com que mudem, com alguma regularidade, de local de permanência. No entanto, são uma presença frequente no espaço da Biblioteca do Palácio, o que demonstra, não só a existência de alimentos, como também a não perturbação por parte dos humanos, à sua atividade.

A sua presença aqui ajuda a evitar insetos neste espaço tão sensível.

A existência de morcegos, que controlam e previnem o aparecimento de pragas de bibliófagos, produz aqui um ecossistema perfeito, unindo as vertentes naturais e patrimoniais.




No  passado recente fez 272 anos sobre o falecimento de D. João V, a 31 de julho de 1750)  filho de D. Pedro II e da sua segunda mulher a rainha D. Maria Sofia de Neuburgo. O seu longo reinado de 43 anos foi crucial na afirmação de Portugal no mundo, no contexto político Europeu e no desenvolvimento do reino.

Como testemunho visível da sua atividade e da sua visão grandiosa, o Palácio de Mafra (incluindo os seus jardins e tapada) foi provavelmente a maior obra em que este monarca se empenhou, a par de outras grandes edificações de caráter público, como o Aqueduto das Águas Livres, que permitiu melhorar o sistema de abastecimento à capital, ou a instituição de bibliotecas e academias, como a Biblioteca Joanina agregada à Universidade de Coimbra, ou a fundação da Academia Real da História Portuguesa.

O Palácio Real de Mafra recorda o monarca que fundou este magnífico monumento, onde mandou instalar dois carrilhões nas torres sineiras da Basílica de Mafra, hoje Património da Humanidade.

Em sua memória o concerto final do Festival Internacional de Carrilhão, realizado no âmbito da Temporada Cruzada Portugal França 2022, é-lhe dedicado.

Na foto: estátua a meio corpo representando D. João V, em mármore de Carrara, executada por Alessandro Giusti, em 1748-49 (PNM 7509).

Escultura realizada em Roma, cerca de 1748-49, sendo a primeira peça executada pelo escultor italiano Alessandro Giusti (1715-1799), para a corte portuguesa e malogradamente a última representação do monarca, já que este veio a falecer a 31 de julho de 1750. Com esta obra Alessando Giusti dá início a uma extensa relação artística com Portugal e, em particular, com a Real Escola de Escultura de Mafra, "academia" instituída por D. José I, em 1752.

O “retrato escultórico” de D. João V revela toda a espessura psicológica de um grande monarca no auge do seu longo e profícuo reinado, com perto de 60 anos de idade, atestando a grandeza régia e o seu alto patrocínio às artes e letras.

A escultura era destinada à biblioteca do Convento de São Filipe de Néri, também dito de Nossa Senhora das Necessidades, em Lisboa, posteriormente transferido para o jardim do Palácio das Necessidades, depois para a Sala das Bicas do Palácio de Belém e por fim integrado no espólio do Palácio de Mafra.





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