"A
Biblioteca"
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
Aqui estão guardados livros que são exemplares
únicos e raros do saber produzido no ocidente entre os séculos XV a XIX. Considerada
uma das mais belas do mundo, esta biblioteca nasceu no reinado de D. João V, o
rei que privilegiava a cultura e o saber.
A maior sala do convento de Mafra está forrada com
mais de 40 mil livros, arrumados e alinhados nas estantes em estilo rococó. Encadernações
em couro gravadas a ouro, dizem-nos que não são livros comuns, que estamos
perante objetos valiosos, em cujas páginas se condensam séculos de
conhecimento, cultura e sabedoria. Numerosas obras foram encomendadas por D.
João V, porque o rei queria concentrar neste palácio, que lhe era muito
especial, o que de melhor se imprimia no reino e no estrangeiro.
Da autoria do arquiteto Manuel Clemente de Sousa,
a biblioteca, com 88 metros de comprimento e uma planta em cruz, tem um pouco
de tudo: obras de medicina, filosofia, literatura, direito, gramáticas e
dicionários, enciclopédias de costumes, livros de viagens. Na ala mais a sul
estão os temas religiosos e, a norte, no lado oposto, arrumam-se os profanos
das ciências puras. Exemplares únicos ou de grande raridade são manuseados com
mil cuidados, como é o caso da primeira edição do Alcorão, de 1543, da Bíblia
poliglota, de 1514 ou ainda de uma primeira edição de “Os Lusíadas”. Já a
preservação destas obras antiquíssimas está a cargo de um exército de
minúsculos morcegos que, durante a noite, caçam os insetos que comem papel,
tinta e cola.
Considerada uma das mais importantes bibliotecas
do mundo, faz parte do imponente palácio mandado construir em 1717 por D. João
V, em cumprimento de uma promessa para lhe nascer um filho herdeiro do seu
casamento com D. Maria Ana de Áustria. Mas esta é uma outra história,
romanceada por José Saramago em “Memorial do Convento”.
Os morcegos são das
espécies mais enigmáticas da fauna. Para tal, a sua capacidade de voar à noite,
gerir o seu voo e a sua atividade de caça, em função da comida disponível
(insetos), faz com que mudem, com alguma regularidade, de local de permanência.
No entanto, são uma presença frequente no espaço da Biblioteca do Palácio, o
que demonstra, não só a existência de alimentos, como também a não perturbação
por parte dos humanos, à sua atividade.
A sua presença aqui
ajuda a evitar insetos neste espaço tão sensível.
A existência de
morcegos, que controlam e previnem o aparecimento de pragas de bibliófagos,
produz aqui um ecossistema perfeito, unindo as vertentes naturais e
patrimoniais.
No passado recente fez 272 anos sobre o
falecimento de D. João V, a 31 de julho de 1750) filho de D. Pedro II e da sua segunda mulher a
rainha D. Maria Sofia de Neuburgo. O seu longo reinado de 43 anos foi crucial
na afirmação de Portugal no mundo, no contexto político Europeu e no
desenvolvimento do reino.
Como testemunho
visível da sua atividade e da sua visão grandiosa, o Palácio de Mafra
(incluindo os seus jardins e tapada) foi provavelmente a maior obra em que este
monarca se empenhou, a par de outras grandes edificações de caráter público,
como o Aqueduto das Águas Livres, que permitiu melhorar o sistema de
abastecimento à capital, ou a instituição de bibliotecas e academias, como a
Biblioteca Joanina agregada à Universidade de Coimbra, ou a fundação da
Academia Real da História Portuguesa.
O Palácio Real de
Mafra recorda o monarca que fundou este magnífico monumento, onde mandou
instalar dois carrilhões nas torres sineiras da Basílica de Mafra, hoje
Património da Humanidade.
Em sua memória o
concerto final do Festival Internacional de Carrilhão, realizado no âmbito da
Temporada Cruzada Portugal França 2022, é-lhe dedicado.
Na foto: estátua a
meio corpo representando D. João V, em mármore de Carrara, executada por
Alessandro Giusti, em 1748-49 (PNM 7509).
Escultura realizada em
Roma, cerca de 1748-49, sendo a primeira peça executada pelo escultor italiano
Alessandro Giusti (1715-1799), para a corte portuguesa e malogradamente a
última representação do monarca, já que este veio a falecer a 31 de julho de
1750. Com esta obra Alessando Giusti dá início a uma extensa relação artística
com Portugal e, em particular, com a Real Escola de Escultura de Mafra,
"academia" instituída por D. José I, em 1752.
O “retrato
escultórico” de D. João V revela toda a espessura psicológica de um grande
monarca no auge do seu longo e profícuo reinado, com perto de 60 anos de idade,
atestando a grandeza régia e o seu alto patrocínio às artes e letras.
A escultura era
destinada à biblioteca do Convento de São Filipe de Néri, também dito de Nossa
Senhora das Necessidades, em Lisboa, posteriormente transferido para o jardim
do Palácio das Necessidades, depois para a Sala das Bicas do Palácio de Belém e
por fim integrado no espólio do Palácio de Mafra.
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