Em 15 de Abril de 1941, enquanto mais de metade da Europa se debatia com uma guerra devastadora, as preocupações das autoridades municipais de Lisboa eram mais mundanas. Organizava-se então o concurso de Montras Iluminadas, segundo dava conta a revista “Mundo Gráfico”, numa altura em que duzentos estabelecimentos comerciais já dispunham «dos mais modernos preceitos de uma boa iluminação», testemunhando a «forma inteligente por que o comércio lisboeta (…) tem conseguido a iluminação racional dos nossos estabelecimentos». Os letreiros de néon triunfavam na noite da capital, marcando uma época
Com o marido, Paulo Barata,
igualmente designer,
Rita Múrias iniciou os esforços de recolecção, procurando salvaguardar o que
pudessem como despojos de uma era perdida. “A primeira aquisição aconteceu
muito perto de nossa casa”, diz a designer.
Havia uma sapataria com um letreiro lindo de ferro, produzido na década de
1940. O proprietário já o tinha removido porque não queria pagar mais taxas
camarárias. A loja estava em decadência. Oferecemo-nos para ficar com o
letreiro.” E nasceu a ideia de criar uma colecção.
O casal estabeleceu uma meta: tentaria recuperar pelo menos um letreiro por semana. Durante quatro meses, cumpriu o objectivo, persuadindo os lojistas a salvaguardar a memória e compreendendo uma verdade mais fundamental: as lojas integram-se no quotidiano dos bairros, fundem-se e tornam-se parte da identidade colectiva. “Perante a vaga de destruição natural que está a ocorrer em Lisboa, pareceu-nos digno tentar salvaguardar parte desse património”, diz Paulo Barata. Porque uma loja é muito mais do que um estabelecimento comercial, tal como um letreiro tem um significado mais transcendente do que um conjunto de metal, luzes e circuitos eléctricos.
Paulo Barata e Rita Múrias
reconhecem que a sua colecção (a partir de agora, preservada em instalações
cedidas pela autarquia em Campolide) é uma gota de água na diversidade
tipográfica que então dominou a cidade. É um instantâneo de uma era que se
esfumou sem que quase déssemos por isso. “No início do século XX, muitas
fachadas eram pintadas. Hoje, não resta uma. As cidades mudam e queremos
salvaguardar uma pitada da cidade que se perdeu”, resumem os designers.
Se tiver um letreiro do século XX
à sua guarda, não hesite. Contacte a equipa em letreiro.galeria@gmail.com e ajude a
preservar uma página da história de Lisboa, a cidade das mil fachadas.
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