terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Palácio da Pena – o tesouro de Sintra



O Palácio Nacional da Pena é como uma joia sagrada que coroa a Serra de Sintra. O parque envolvente, em sintonia com o caráter feérico do palácio, desperta emoções de mistério e de descoberta. Nos seus recantos, os olhares perdem-se de encanto.

Os tons coloridos do palácio, expoente máximo do Romantismo em Portugal e obra eterna de D. Fernando II, Rei-Artista, abrem portas à imaginação de todos os que ali chegam, e os infinitos matizes de verde que pintam o parque circundante constituem um cenário idílico, frequentemente sob o véu do característico nevoeiro da serra de Sintra. Como que saído de um conto de fadas, este lugar faz sonhar todas as gerações dos que por ali passam e que com ele se deslumbram.

A história deste lugar mágico começa no século XII, altura em que ali existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Pena. Neste mesmo local, D. Manuel I mandou edificar um Mosteiro, o Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, posteriormente entregue à Ordem de São Jerónimo.

 

O terramoto que atingiu Lisboa em 1755 deixou o mosteiro praticamente em ruínas. Mesmo degradado, o Mosteiro manteve a sua atividade, mas, passados quase cem anos, em 1834 quando se deu a extinção das ordens religiosas em Portugal, foi deixado ao abandono. O Parque da Pena ainda conserva recantos que remetem para esta época, como por exemplo a Gruta do Monge, local onde os monges praticavam o recolhimento.

 

Dois anos mais tarde, em 1836, a rainha D. Maria II casa-se com Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha, um príncipe da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha, sobrinho do duque reinante de Coburgo Ernesto I e do rei Leopoldo I da Bélgica. De acordo com o contrato nupcial, D. Fernando recebeu a dignidade de rei-consorte.

 

D. Fernando II foi um dos homens mais cultos de Portugal, durante o século XIX. Poliglota, dominava as línguas alemã, húngara, francesa, inglesa, espanhola, italiana e, claro, a portuguesa. Na infância, o ainda então Duque de Saxe-Coburgo e Gotha teve uma cuidada educação onde as artes, em particular a música e o desenho, desempenharam um papel fundamental. Durante toda a sua vida teve uma grande ligação às artes, enquanto autor, colecionador e mecenas, tendo ficado conhecido como Rei-Artista.

 

Pouco depois da sua chegada a Portugal apaixonou-se por Sintra, e adquiriu, com a sua fortuna pessoal, o Mosteiro de São Jerónimo, em ruínas, bem como toda a mata que o envolvia. Este mosteiro quinhentista exerceu sobre o rei um enorme fascínio, radicado na sua educação germânica e no imaginário romântico da época que a serra, e a valorização estética das ruínas, atraíam. O projeto inicial era, apenas, a recuperação do edifício para residência de verão da família real, mas o seu entusiasmo levou-o a decidir-se pela construção de um palácio, prolongando a construção pré-existente, sob a direção do Barão Wilhelm Ludwig von Eschwege, mineralogista e engenheiro de minas então residente em Portugal. O edifício é circundado por outras estruturas arquitetónicas que apelam ao imaginário medieval com os caminhos de ronda, torres de vigia, um túnel de acesso e até uma ponte levadiça. O palácio incorpora referências arquitetónicas de influência manuelina e mourisca que produzem um surpreendente cenário “das mil e uma noites”

 

No parque, traduzindo a expressão da estética romântica e aliando a busca do exotismo à impetuosidade da natureza, o rei desenhou caminhos sinuosos que conduzem o visitante à descoberta de locais de referência ou de onde se desfrutam vistas notáveis: a Cruz Alta, o Templo das Colunas, o Alto de Sta. Catarina, a Gruta do Monge, a Fonte dos Passarinhos, a Feteira da Rainha e o Vale dos Lagos. Ao longo dos caminhos, com o seu interesse colecionista, plantou espécies florestais nativas de todos os continentes, que fazem com que os 85 hectares do Parque da Pena se traduzam no mais importante arboreto existente em Portugal. Destacam-se as coleções de camélias asiáticas, introduzidas por D. Fernando II no Parque da Pena na década de 1840 e que se tornaram o ex-libris do inverno sintrense sendo motivo de bailes e festas. O exótico arvoredo enquadra pavilhões e pequenas edificações, compondo um cenário de inigualável beleza natural mas, também, de grande relevância histórica e patrimonial.

 

Após a morte de D. Maria II, em 1853, D. Fernando volta a casar com Elise Hensler, cantora de ópera e Condessa d´Edla. Juntos construíram o Chalet da Condessa d’Edla, situado no Parque da Pena. É uma construção de dois pisos com forte carga cénica, de inspiração alpina, que mantinha uma expressiva relação visual com o Palácio.

 

A segunda fase de ocupação da Pena pela Família Real é marcada presença do rei D. Carlos I (1863-1908) e da rainha D. Amélia de Orleães (1865-1951). Estes monarcas irão habitar o palácio durante parte da época de verão, antes de passarem também algum tempo na Cidadela de Cascais. O seu filho, D. Manuel II, também passou largas temporadas neste palácio, onde manteve os seus antigos aposentos de infante no piso nobre do Torreão, ainda que utilizando os antigos quartos do pai no piso inferior do claustro para funções oficiais.

 

É no Palácio da Pena que D. Amélia é surpreendida pela Proclamação da República, a 5 de outubro de 1910, de onde sai para Mafra para se juntar à sogra, D. Maria Pia, e ao filho, D. Manuel, indo embarcar na Ericeira no iate real D. Amélia rumo a Gibraltar.

 

O Palácio da Pena foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e é o mais importante polo da Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1995.

No ano 2000, o Parque da Pena passou a ser administrado pela Parques de Sintra, que, em 2007, recebeu também a gestão do palácio. Em 2013 o Palácio Nacional da Pena passou a integrar a Rede de Residências Reais Europeias


Ao longo dos anos, a Parques de Sintra tem realizado um trabalho constante de conservação, restauro e revalorização do vasto património que o Parque e Palácio da Pena englobam, destacando-se o projeto de reconstrução do Chalet da Condessa d’Edla – distinguido, em 2013, com o Prémio União Europeia para o Património Cultural – Europa Nostra, na categoria de Conservação – e o restauro integral do Salão Nobre do Palácio da Pena






Sala de Jantar e Copa

 


 

D. Fernando II adaptou o antigo refeitório conventual, coberto com uma abóbada de nervuras manuelina do século XVI, a Sala de Jantar privada da família real.

 Aqui destaca-se a mesa funcionalmente adaptável às diferentes necessidades do dia-a-dia, sendo redonda na sua forma mais reduzida, mas extensível até servir para cerca de 24 comensais. 

A mesa encontra-se posta, exibindo um conjunto de pratos de um dos serviços de porcelana que se mantêm no palácio desde o período da monarquia, bem como os copos de cristal de diversas cores com coroa real. Nos fruteiros e centro de mesa encontram-se colocadas frutas e flores da época, dispostas segundo os mesmos arranjos utilizados na época da Família Real. 

No armário louceiro da copa expõem-se dois serviços de D. Fernando II (séc. XIX), com monograma do rei: um da Vista Alegre, com faixa verde-água, e outro da Pickman, Sevilha, com faixa azul. Ao centro, o serviço de Limoges (Haviland), em porcelana branca, encomendado no reinado de D. Carlos I


Cozinha


Esta era a maior cozinha do Palácio da Pena. Conserva dois dos três fogões originais.

Dos inúmeros objetos de cobre – tachos, panelas, frigideiras, peixeiras, chocolateiras –, destaca-se o conjunto de formas na vitrina, com as iniciais P.P. (Palácio da Pena) e o monograma de D. Fernando. Apresentam as mais variadas formas, desde fôrmas de pudins, que lembram castelos fantásticos, a fôrmas de patés com forma de leitão ou de aves, consoante o tipo de paté.










 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Anthony McCall – Rooms

Rooms é a primeira exposição individual do artista britânico Anthony McCall em Portugal. Desenvolvendo-se num espaço entre a escultura, o ci...