Hoje nós recordamos o fato
bíblico narrado no evangelho de São Lucas: a Anunciação do Senhor. Na liturgia, esta solenidade festiva interrompe o tom penitencial e austero da
Quaresma.
É natural que a Igreja introduza no seu calendário um dia para
nos lembrar, de modo específico, o anúncio da encarnação de Jesus Cristo no seio
de Maria. A encarnação do Verbo eterno de Deus.
Aquela oração tradicional, muito difundida em todo o orbe católico, resume a
narrativa bíblica da revelação divina a Maria e
a sua resposta com a decisão de submeter-se ao querer de Deus.
É a oração do “Ângelus”: o Anjo do Senhor anunciou a
Maria e ela concebeu do Espírito Santo.
Em centenas de cidades do Brasil há até hoje o costume de se rezar o “Anjo do Senhor” nos alto
falantes na torre das Igrejas ou mesmo nas rádios onde se faz ainda uma
reflexão diária.
A Anunciação marcou o início da Redenção de Jesus.
O momento sublime em que Deus fez acontecer na História a sua graça de
salvação, a intervenção maior do seu projeto de amor por nós. E Maria foi chamada a ser parceira no diálogo com Deus sobre
a história da salvação. Diálogo que começara com a criação de Adão e
Eva no jardim do Éden e, com Maria, chegou ao ponto máximo e
decisivo. Por outro lado, Maria se fez uma perfeita oferenda da
humanidade toda quando em seu seio puríssimo o Espírito Santo de Deus gerou a carne humana do seu Verbo.
Na pessoa de Maria, nos foi dado conhecer o lado humano do mistério divino da
Encarnação. Por isso se fala que Maria é o rosto materno de Deus.
Estamos nos albores do 3º milênio da história cristã e é bom lembrar que o seu
início foi a gravidez da Virgem. Gravidez que aconteceu
diretamente pela “força do Altíssimo” (Lc 1,35).
São
Paulo, nas
suas cartas, escreve que ao se encarnar, Jesus aceitou nossa
condição humana com toda a sua miséria. Mas Jesus Cristo não se identifica com a realidade humana pecadora;
ele a supera e transcende. Ele pré existia na glória eterna do
mistério de Deus. O Verbo que se fez carne no tempo da história existia desde
toda a eternidade.
Quando Maria se tornou ciente, no
mais profundo do seu íntimo, do projeto divino da Encarnação foi
envolvida por ele. O Evangelho de Lucas nos conta isso
na forma de uma aparição de um mensageiro de Deus, o anjo Gabriel.
Solicitada a participar, Maria deu sua adesão total: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E
aí se tornou a nova Eva, ou a representante
de toda a humanidade.
Lucas faz a catequese de uma revelação divina que
explica o mistério de Jesus.
Trata-se do fundamento da fé nele. Como aconteceu a sua concepção, qual a
origem humana dele e qual a origem sobrenatural. O “sim” de Maria ajustando
sua vida ao projeto de Deus é parte
integrante dessa explicação teológico-catequética de Lucas. Ela nos deu um exemplo maravilhoso
de disponibilidade a Deus. Sem a sua adesão de
fé, sem o seu “faça-se em mim”, não
teríamos Jesus.
A voz do anjo, que pode simbolizar aqui a revelação divina, saúda Maria com a expressão: “cheia de graça!” Graça na Bíblia significa aquilo que Deus é. Deus é a graça que
se comunica. É a identidade mais profunda do seu ser. Se Maria é a “cheia dessa graça” ela é
totalmente possuída por Deus por ter acolhido a oferta dele:
Jesus.
Mas, segundo o texto, Maria perturbou-se com a saudação. O que significa
isto? Segundo os estudiosos significa a preocupação interior da humilde Maria de
Nazaré não entendendo todo o alcance daquele anúncio para a sua
vida. A vontade de Deus parecia lhe trazer problemas. Foi tranquilizada a simplesmente aceitar o mistério
do Salvador como o Filho do Altíssimo, pois o próprio Espírito de Deus a cobriria com seu poder. Dela
nasceria um filho que não era só dela e não teria um pai carnal, mas
seria o Filho do Altíssimo. Ela devia dar-lhe o nome de Jesus porque ele seria o Messias
esperado como descendente de Davi. Jesus o salvador-messias,
esperado por todos e também por ela, estava chegando a todos por meio dela. Ela não precisava temer nada, pois agradara a Deus e Ele a
fizera cheia da sua graça.
Esta narrativa bíblica da Anunciação deve ser lida, meditada, rezada muitas
e muitas vezes. Ela é a porta de entrada para a vida com o Senhor Jesus.
Queremos repetir o sim obediente e confiante de Maria e com
a sua ajuda viver a nossa fé em tantas e tantas situações que nos deixam
temerosos, preocupados e perplexos. Por um “sim” tão curto e simples
é possível entrar em cheio no mistério da graça salvadora de Cristo, vivendo as
realidades da família, do trabalho e da vida em sociedade iluminando-as sempre
com a oração.
Fonte: https://www.a12.com/academia/homilias/anunciacao-do-senhor
Sem comentários:
Enviar um comentário