segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Gares Marítimas de Alcântara e Rocha Conde d’Óbidos

Gare Marítima de Alcântara

Construída na década de 40,ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa, foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar ao passageiro o máximo de comodidade. A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros, subdivididas em 2 trípticos (a nascente,'' Quem não viu Lisboa não viu coisa boa'', que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas e, a poente, subordinado ao tema da ''Nau Catrineta'') e ainda, em 2 figuras avulsas, uma delas alusiva ao ''Milagre de D. Fuas Roupinho''. No exterior, a parte central da fachada está definida por pano de muro côncavo, vazado ao nível do piso térreo por 3 portas rectangulares envidraçadas, protegidas por pala e encimadas até ao remate do alçado por 3 grandes janelões retangulares. Remate esse, feito por volume recuado vazado por 7 óculos circulares. Toda a fachada é, ainda, percorrida por um extenso terraço, que se estende em ambos os lados para além do edifício. A partir da década de 80, com o alargamento do cais e a extinção da maioria das carreiras de passageiros, esta estação viu o seu movimento reduzido e passou a ser disponibilizada para outros projetos, para além da sua função inicial. Este imóvel encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público.
























Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos

Construída entre 1945 e 1948,no âmbito do programa de modernização dos equipamentos portuários da capital ,destinava-se a assegurar o serviço de passageiros, quando o movimento de paquetes era ainda intenso. Projectada pelo arq. Pardal Monteiro ,possui planta longitudinal e volumetria paralelepipédica escalonada ,com a cobertura efectuada em terraço e em estrutura metálica em canhão. É tipologicamente semelhante à Gare Marítima de Alcântara, pois apresenta uma estrutura de betão armado e linhas modernas, desenvolvendo-se em 2 pisos,o térreo destinado às actividades e serviços do cais e o superior reservado aos passageiros. Este último organiza-se em 2 corpos, uma ampla nave alongada e um vestíbulo principal, também este, decorado com pinturas murais, acentuadamente modernistas em termos formais, da autoria de Almada Negreiros. Os 2 trípticos representam cenas alusivas à actividade marítima, agrupando temas como "Saltimbancos ,"Varinas" e "Passeio de Barco" num deles e "A Partida"'''',"''''O Trabalho de Construção" e "O Regresso" no outro. Exteriormente, um terraço-varanda prolonga-se na direcção nascente para além do próprio edifício, com o objectivo de receber mais do que um navio ao mesmo tempo. O modernismo patente nesta construção evidencia-se, também, ao nível do desenho das fachadas, rasgadas por envidraçados pontuados com pequenos óculos, que favorece uma relação harmoniosa entre linhas curvas e valores ortogonais de estruturas numa volumetria proporcionada e com sentido de escala. A extinção da maioria das carreiras de passageiros, devido à concorrência do transporte aéreo, reduziu o movimento de paquetes no Porto de Lisboa apenas aos navios de cruzeiro que o escalam sobretudo no Verão. Foi para acolher estes passageiros que, em 1994, esta estação marítima conheceu obras de modernização. Este imóvel encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público.
























José Sobral de Almada Negreiros GOSE (Trindade, São Tomé e Príncipe, 7 de abril de 1893 — Lisboa, 15 de junho de 1970) foi um artista multidisciplinar português que se dedicou fundamentalmente às artes plásticas (desenho, pintura, etc.) romance, poesia, ensaio, dramaturgia), ocupando uma posição central na primeira geração de modernistas portugueses.

Almada Negreiros é uma figura ímpar no panorama artístico português do século XX. Essencialmente autodidata (não frequentou nenhuma escola de educação artística), a sua precocidade levou-o a dedicar-se desde muito jovem à sua falta de humor. Mais pela notoriedade que adquiriu no início da carreira, transforma tudo em escrita, interventiva ou literária. Almada teve um papel particularmente ativo na primeira vanguarda modernista, com um importante contributo para a dinâmica do grupo ligado à Revista Orpheu, sendo a sua ação decisiva para que esta publicação não se restringisse à área das letras. Arrojado, polémico, assumiu um papel central na dinâmica do futurismo em Portugal: “Se a introversão de Fernando Pessoa se deve ao heroísmo da realização solitária da grande obra que agora reconhece, o ativismo de Almada deve-se ao espectacular vibração do «futurismo» português e doutras intervenções públicas oportunas, em que era necessário enfrentar”2 .

Mas a intervenção pública de Almada e da sua obra não marcou apenas o primeiro quartel do século XX. Ao contrário de companheiros próximos como Amadeo de Souza-Cardoso e Santa-Rita, ambos falecidos em 1918, sua ação durou várias décadas, ultrapassando a segunda e terceira gerações de modernistas3. A força de suas intervenções iniciais teria que se abrir, dando lugar a uma atitude mais lírica e construtiva que abriu caminho para sua obra plástica e literária madura. Escreve Eduardo Lourenço: “Estranho arco de vida e arte que une Almada «Futurista e tudo», Narciso do Egipto dá juventude provocadora, certo mago hermético que foi encontrado nos anos 40, «uma chave» se o mundo não é «imanente» número do universo»“ .

Almada é também um caso particular em que se posicionou em termos de carreira artística. Esteve em Paris, como todos os candidatos a artista então fez, mas fe-lo desatualizou dois companheiros de geração e por um curto período, sem veramente se inscreveu como meio artístico parisiense. E se Paris era para ele pouco mais que um ponto de passagem, sua segunda permanência, não estrangeira, revelava-se ainda mais atípica. Viveu vários anos em Madrid e o seu regresso esteve associado à decisão de se dedicar definitiva e exclusivamente a Portugal.

Ao longo da vida empenhou-se uma enorme diversidade de áreas e meios de expressão – design e pintura, ensaio, romance, poesia, dramaturgia… dança ou dança –, que Fernando de Azevedo classifica como “dispersão cintilante”5. Sem fixará um domínio único e preciso, ou que emerge e sobretudo na imagem do artista total, inclassificável, onde tudo ultrapassa soma das partes. Também neste aspecto, Almada difere de dois dos seus pares mais notáveis, Amadeo de Souza-Cardoso e Fernando Pessoa, cuja concentração num território único e exclusivo foi condição necessária para a realização das maiores obras que nos deixou como legado .

Personalidade incontornável, a inserção de Almada Negreiros na vida e cultura nacional é extremamente complexa; segundo José Augusto França, deu-lhe um macacão à imagem de “português sem mestre” e, também, tragicamente, “sem discípulos”.

José de Almada Negreiros outdoor issued during the Portuguese dictadure (1971)





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